Conforme Frank Ribeiro argumenta em Amar é Comportamento (2023), amar é uma prática gerundial — um “estar amando” que se aprende, desenvolve e executa por meio de escolhas éticas e responsivas ao ambiente relacional. Longe de ser um estado essencial ou instintivo, amar é um processo contínuo que molda a identidade conjugal, respeitando as individualidades dos cônjuges sem buscar uma unidade essencialista. Este texto apresenta cinco práticas cotidianas, inspiradas nos pilares de Ribeiro (aprendizado social, linguagem e semiologia, mindset e mindscape, base neurofuncional, atos de significado) e em princípios cristãos, para cultivar o amar como comportamento, fortalecendo o vínculo conjugal.
O Que Significa Cultivar o Amar como Comportamento?
Cultivar o amar é praticar ações intencionais, significativas e regulares que constroem e renovam o relacionamento, reconhecendo que amar é aprendido socialmente, expresso por meio da linguagem e gestos, orientado por uma mentalidade (mindset) e paisagem mental (mindscape), sustentado por processos neurofuncionais e realizado em atos carregados de sentido. Como Ribeiro destaca, “amar é sempre hoje” — um fluxo de comportamentos que conferem significado ao viver com o outro, exigindo escolha diária e responsividade (Ribeiro, 2023). No casamento, essas práticas se tornam Liturgias do Amar, rituais que transformam o cotidiano em momentos de conexão ética e relacional.
Práticas Cotidianas para Cultivar o Amar
Abaixo, apresentamos cinco práticas cotidianas, cada uma alinhada aos pilares de Ribeiro e enraizada nas Liturgias do Amar, para cultivar o amar como comportamento, promovendo uma identidade conjugal dinâmica e resiliente:
1. Expressar Gratidão por Meio de Gestos e Palavras
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Descrição: Compartilhar gratidão diariamente, por meio de palavras ou ações, reforça o amar como um comportamento aprendido e sígnico, moldado por interações sociais.
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Liturgia do Amar: Reservar um momento diário, como ao acordar ou antes de dormir, para expressar apreço específico pelo cônjuge, usando frases ou gestos que transmitam significado.
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Pilar de Ribeiro: Linguagem e semiologia (o amar se realiza em signos como palavras e gestos); aprendizado social (a gratidão é aprendida em contextos relacionais).
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Benefício: Ativa sistemas cerebrais de recompensa, fortalecendo a conexão emocional e a identidade conjugal.
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Exemplo Prático: Dizer “Obrigado por organizar a casa hoje, isso me fez sentir cuidado” ou deixar um bilhete de agradecimento.
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Base Bíblica: 1 Tessalonicenses 5:18 – “Deem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.”
2. Praticar a Escuta Ativa e Empática
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Descrição: Ouvir o cônjuge com atenção plena, refletindo sentimentos e necessidades, expressa o amar como um ato de significado, orientado por uma mentalidade de abertura.
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Liturgia do Amar: Dedicar 10 minutos diários a uma conversa sem interrupções, onde cada um escuta e parafraseia o que o outro disse, garantindo compreensão.
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Pilar de Ribeiro: Mindset e mindscape (uma mentalidade empática cria um terreno mental fértil para o amar); linguagem e semiologia (a escuta é um signo de cuidado).
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Benefício: Estimula a memória emocional e reforça a confiança, sustentando o processo conjugal.
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Exemplo Prático: Após o cônjuge compartilhar um desafio, responder “Você está se sentindo sobrecarregado com o trabalho, é isso?” para confirmar entendimento.
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Base Bíblica: Tiago 1:19 – “Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se.”
3. Realizar Atos de Serviço Intencionais
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Descrição: Executar gestos práticos de cuidado, como assumir uma tarefa do cônjuge, reflete o amar como comportamento ativo, aprendido em interações sociais e carregado de significado.
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Liturgia do Amar: Escolher um ato de serviço diário, como preparar o café ou organizar algo que o cônjuge valorize, como uma oferta consciente de amar.
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Pilar de Ribeiro: Atos de significado (o amar se manifesta em ações concretas); base neurofuncional (atos de serviço ativam sistemas de recompensa).
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Benefício: Fortalece a parceria, respeitando as individualidades e promovendo reciprocidade.
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Exemplo Prático: Lavar a louça sem ser pedido, dizendo “Quero te aliviar hoje, porque te amo”.
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Base Bíblica: Gálatas 5:13 – “Sirvam uns aos outros com amor.”
4. Criar Rituais de Conexão Diária
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Descrição: Estabelecer rituais simples, como orações ou momentos de afeto, reforça o amar como prática contínua, moldada por uma mentalidade de compromisso.
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Liturgia do Amar: Adotar um ritual diário, como orar juntos por 3 minutos ou compartilhar um abraço longo ao chegar em casa, para ancorar a conexão.
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Pilar de Ribeiro: Mindset e mindscape (rituais criam um terreno mental de estabilidade); atos de significado (cada ritual é um ato de amar renovado).
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Benefício: Consolida memórias positivas e fortalece a identidade conjugal como processo.
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Exemplo Prático: Orar juntos todas as noites, pedindo “Senhor, ajude-nos a estar amando com paciência hoje”.
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Base Bíblica: Mateus 18:20 – “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles.”
5. Exercitar o Perdão como Escolha Diária
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Descrição: Perdoar pequenas falhas ou tensões diariamente, de forma intencional, expressa o amar como um comportamento ético, sustentado por decisões conscientes.
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Liturgia do Amar: Refletir ao final do dia sobre qualquer mágoa, escolhendo perdoar e, se necessário, conversar abertamente para restaurar a conexão.
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Pilar de Ribeiro: Base neurofuncional (o perdão reduz o estresse e ativa sistemas de decisão); atos de significado (perdoar é um signo de compromisso).
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Benefício: Mantém o relacionamento livre de ressentimentos, promovendo aprendizado mútuo.
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Exemplo Prático: Antes de dormir, dizer “Se te magoei hoje, me perdoe; quero estar amando melhor amanhã”.
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Base Bíblica: Colossenses 3:13 – “Perdoem como o Senhor lhes perdoou.”
Impacto na Identidade Conjugal
Essas práticas cotidianas, enraizadas nas Liturgias do Amar e nos pilares de Frank Ribeiro, transformam o amar em um comportamento vivo e ético, fortalecendo a identidade conjugal como um processo dinâmico. A gratidão e a escuta ativa nutrem a conexão emocional, enquanto os atos de serviço e os rituais de conexão reforçam a parceria espiritual e prática. O perdão diário garante que o amar permaneça renovado, livre de amarguras que poderiam estagnar o relacionamento. Como Ribeiro destaca, “o amar de amanhã dependerá dos significados construídos no cotidiano” (Ribeiro, 2023). Essas ações, sustentadas por sistemas cerebrais de recompensa, memória e decisão (Bartels & Zeki, 2000; Fisher et al., 2006), e orientadas por uma mentalidade ética, evitam a busca por uma unidade essencialista, celebrando o amar como um fluxo de atos significativos.
Tabela: Práticas Cotidianas para Cultivar o Amar
Prática |
Descrição |
Liturgia do Amar |
Pilar de Ribeiro |
Benefício |
Base Bíblica |
Exemplo Prático |
---|---|---|---|---|---|---|
Expressar Gratidão |
Compartilhar apreço por palavras ou gestos. |
Momento diário de gratidão específica. |
Linguagem/Semiologia; Aprendizado Social |
Ativa recompensa cerebral e conexão emocional. |
1 Tessalonicenses 5:18 |
“Obrigado por organizar a casa, isso me fez sentir cuidado.” |
Escuta Ativa |
Ouvir com atenção e refletir sentimentos. |
Conversa diária de 10 minutos sem interrupções. |
Mindset/Mindscape; Linguagem/Semiologia |
Reforça confiança e aprendizado mútuo. |
Tiago 1:19 |
“Você está se sentindo sobrecarregado, é isso?” |
Atos de Serviço |
Gestos práticos de cuidado. |
Ato diário de apoio ao cônjuge. |
Atos de Significado; Base Neurofuncional |
Fortalece parceria e reciprocidade. |
Gálatas 5:13 |
Lavar a louça, dizendo “Quero te aliviar hoje.” |
Rituais de Conexão |
Estabelecer momentos de afeto ou oração. |
Ritual diário, como oração ou abraço. |
Mindset/Mindscape; Atos de Significado |
Consolida memórias positivas. |
Mateus 18:20 |
Orar juntos, pedindo paciência. |
Perdão Diário |
Perdoar falhas como escolha ética. |
Reflexão diária para perdoar e conversar. |
Base Neurofuncional; Atos de Significado |
Mantém harmonia e renovação. |
Colossenses 3:13 |
“Se te magoei, me perdoe; quero estar amando melhor.” |
Considerações Finais
Cultivar o amar como comportamento é um exercício diário de escolha, intencionalidade e responsividade, que transforma o casamento em um processo vibrante de construção da identidade conjugal. As práticas de gratidão, escuta, serviço, rituais e perdão, inspiradas nos pilares de Frank Ribeiro e em princípios cristãos, tornam o amar um fluxo de atos significativos, moldados por interações sociais, expressos em signos e sustentados por uma mentalidade ética. Como Ribeiro destaca, amar é “flor cultivada entre os espinhos da condição humana” (Ribeiro, 2023). Que os casais abracem essas Liturgias do Amar, permitindo que cada dia seja uma oportunidade de estar amando com propósito, cuidado e graça.