Introdução
Há amores que começam, mas não continuam. Outros permanecem, mas não se movem. E há aqueles que se reinventam a cada dia — indo, cuidando, ouvindo, escolhendo, perdoando. Esses são os gestos do amar em gerúndio: ações que não se esgotam no instante, mas prolongam no tempo o sentido de um vínculo vivo.
Este artigo propõe uma leitura simbólica do gerúndio como forma verbal do amor contínuo. Um amar que não se fecha no passado, nem se projeta apenas no futuro, mas insiste em acontecer — no presente progressivo. Amar, assim, é estar em movimento afetivo. É verbo gerundivo encarnado no hoje.
1. O gerúndio é o tempo da permanência ativa
O gerúndio, na gramática, expressa uma ação em curso. Ele diz: “está acontecendo”. Na afetividade, isso significa que o amor não é uma decisão já tomada e esquecida, mas uma escolha que se renova enquanto se vive.
Dizer “estou amando” é mais comprometedor que “eu te amo”, porque envolve ação contínua. É admitir que o vínculo não é um ponto fixo, mas um fluxo. O amar gerundivo não descansa no conforto da declaração passada, mas se manifesta na rotina que insiste em não esquecer de cuidar.
2. O gesto como gramática do amar em curso
Cada gesto é um verbo que se faz carne. E os gerúndios do amar são visíveis: escutando, preparando, observando, acolhendo, persistindo. Não se trata de atos heroicos, mas de microações contínuas que formam a textura comportamental do afeto verdadeiro.
Amar gerundivamente é transformar o cotidiano em espaço de atualização do vínculo. É manter a chama sem espetáculo. É ser constante sem ser previsível. É saber que amar não se conclui — se continua.
3. O hoje como altar do comportamento amoroso
Muitos relacionamentos adoecem porque vivem de memórias do amor ou promessas do porvir. Mas o gerúndio exige o hoje. Amando agora. Cuidando agora. Olhando agora. O presente não é apenas tempo cronológico, é espaço simbólico da escolha.
Quando se negligencia o hoje, o vínculo entra em suspensão. E nada sustenta o amor que não se atualiza. O gesto precisa ser renovado. A atenção precisa ser reafirmada. O compromisso precisa ser mantido em ato — e o gerúndio é esse ato em processo.
Conclusão: amar é verbo em andamento
A leitura simbólica do gerúndio nos ensina que amar não é um estado, é uma ação contínua. Não basta ter amado, é preciso estar amando. O comportamento amoroso só ganha densidade quando é vivido no tempo presente, sustentado por gestos que permanecem acontecendo.
Por isso, amar é conjugar-se no agora, recusando a inércia do “já fiz” e o conforto do “ainda farei”. Amar é verbo em andamento. É compromisso em movimento. É conjugalidade em construção diária.
Amar, enfim, é não parar de amar.